Café: Estratégias Para Exportar Mais E Melhor(1)

Mercado externo

            O café arábica continuou a tendência de queda na Bolsa de Nova Iorque no mês de setembro. Mesmo com a paralisação das operações da Bolsa no período de 11 a 17, a cotação média para dezembro é 7,33% menor do que a média de agosto. Dentro do mês, verificou-se uma queda contínua, com a cotação passando de US$ 67,53 a saca de 60 quilos, em 4 de setembro, para US$ 63,89/sc em 28 de setembro (gráfico 1). A aceleração das exportações do Brasil e de países da América Central, associada à normalização das condições climáticas nas zonas cafeeiras brasileiras que permitiu boa floração, constituiu os fundamentos da baixa no mês. Por outro lado, o aprofundamento da desvalorização do real frente ao dólar compensou o impacto negativo das quedas nos preços internacionais, uma vez que os preços recebidos pelos cafeicultores apresentaram redução de 5,93%, inferior àquela verificada em Nova Iorque.
            No mercado de Londres, as cotações do café robusta para novembro também continuaram em queda, com reduções semelhantes às observadas para os cafés arábicas, registrando queda média de 7,59% em relação à cotação média observada em agosto. A cotação no mercado futuro para novembro, de US$ 28,50/sc de 60 kg em 3 de setembro, caiu para US$ 25,62/sc ao final do mês (gráfico 2).

GRÁFICO 1 – Café Arábica, Contrato C na Bolsa de Nova Iorque, Cotação para Dezembro de 2001, em Setembro de 2001.

   Fonte: Elaborado a partir de dados básicos de Gazeta Mercantil, setembro 2001.

GRÁFICO 2 – Café Robusta, Bolsa de Londres, Cotação para Novembro de 2001

   Fonte: Elaborado a partir de dados básicos de Gazeta Mercantil, setembro 2001.

Mercado interno

            O impacto dos atentados terroristas perpetrados contra dois importantes ícones da nação hegemônica, os EUA (World Trade Center de Nova Iorque e Pentágono em Washington), continua apresentando substanciais repercussões sobre o agora frágil equilíbrio político global. O mercado de café, como era esperado, também repercutiu o impacto desse evento, com a quase paralisação dos negócios na semana de 11 a 17 de setembro. A incerteza política e econômica gerada pelos atentados e a intensificação da desvalorização do real fizeram com que as transações pouco variassem, mantendo os preços no mercado interno com pequenas alterações ao longo de setembro. De acordo com o Escritório Carvalhaes, os cafés finos e extrafinos foram cotados em média a R$ 117,50/sc, os de boa qualidade (chamados duros bem preparados) mantiveram-se em R$ 114,00/sc e os duros (com xícaras mais fracas), com média de R$ 109,00/sc, encerraram a última semana cotados a R$ 104,00/sc. Os cafés riados foram cotados em média a R$ 102,00/sc, caindo para R$ 97,50/sc em 28 de setembro, e, finalmente, os cafés rios foram cotados em média a R$ 94,50/sc, caindo para R$ 87,50/sc ao término do mês.
            A vigorosa florada dos cafezais, associada ao comportamento favorável do clima em todas as regiões produtoras, induz à percepção geral de que haverá elevada produção na safra 2002/2003. Caso se confirmem tais expectativas, os preços deverão manter a trajetória de declínio ao longo deste e do próximo anos.
            Quanto aos preços do café robusta no mercado de Vitória (ES), observaram-se oscilações entre R$ 46,00 e R$ 52,00 para os tipos 7/8 sem descrição e tipo 7 com até 10% de broca. Para os robustas de Rondônia, os valores foram menores, com negócios sendo fechados entre R$ 28,00 e R$ 32,00/sc, reconhecidamente abaixo do custo de produção calculado para esse Estado, entre R$ 46,00/sc e 57,00/sc, dependendo se a lavoura é ou não fertilizada com adubos químicos.

Desobstruindo as exportações do negócio café

            Foi ampliado para 180 dias o prazo de registro de exportação de café após negociação de vendas para embarque, aumentando com isso as oportunidades de negócios no mercado externo. Aliás, não dá para entender a razão da existência dessas medidas restritivas às exportações, sobretudo tendo em vista as dificuldades do Brasil com relação as suas contas externas.
            Todas as questões relacionadas com a exportação precisam ser analisadas dentro de um contexto maior. Ou seja, as expectativas, mesmo antes do ataque terrorista do dia 11 de setembro, eram de que o comércio mundial em 2001 crescesse apenas 2%, bem menos do que os 12% observados em 2000, aumentando as dificuldades para a internalização de divisas externas diante de um quadro mundial de redução do consumo. Os efeitos líquidos desse ato condenável ainda estão para ser melhor avaliados, mas a tendência é de maior acentuação da perda de dinamismo do comércio mundial. Estudos preliminares de organismos internacionais preconizam uma queda do PIB maior que a média mundial nas grandes nações e blocos importadores (EUA, União Européia e Japão).
            Países emergentes como o Brasil deverão envidar maiores esforços para equilibrar suas contas externas, não só em decorrência do recuo dos próprios mercados consumidores (retração de comércio), como também devido à expectativa de menores fluxos de capitais de investimento, devido ao aumento de possíveis riscos sistêmicos. Esses obstáculos, entretanto, poderão ser parcialmente compensados pela tendência de desvalorização da moeda americana, de certa forma inevitável para os gestores da política econômica dos Estados Unido, o que poderá tornar as commodities brasileiras mais competitivas tanto na Europa como no Japão.
            Entretanto, o Brasil não deve ficar na dependência de decisões e fatores externos. É urgente que suas próprias estratégias sejam elaboradas visando ao aumento das exportações. E, no caso do café, isso significaria tomar uma série de decisões que ampliariam as oportunidades de ocupar espaços no mercado internacional. Uma delas seria a de ampliar ainda mais o prazo de registro das exportações, isso porque seis meses são ainda insuficientes. No caso da soja, por exemplo, esse prazo é ilimitado, o que permite estabelecer contratos de longo prazo com nossos fornecedores. Essa questão assume aspecto mais importante ainda na situação atual em que o País pretende explorar as oportunidades de exportar o café já torrado e/ou torrado e moído, com maior valor agregado. É uma forma de comercialização que tem crescido muito nos últimos anos, representando hoje o equivalente a 6 milhões de sacas de café verde. Tudo indica que essa forma mudaria completamente os canais normais de se efetuar as negociações, as quais seriam realizadas diretamente com as grandes redes de varejo no mundo, o que exigiria obediência maior a regras claras e a contratos de fornecimento de médio e longo prazos.
            Uma ampliação do prazo dos registros para pelo menos 12 meses se constituiria em medida vital para agilizar a comercialização externa do café brasileiro, podendo inclusive, em determinadas circunstâncias de mercado, trazer valorização de até R$ 30,00 por saca de café vendida no mercado físico. Isto poderá ocorrer devido à menor oferta de café arábica brasileiro exportável, para o ano safra de 2001/02.
            Outro fato favorável à medida é que todos os países produtores concorrentes do Brasil permitem aos exportadores realizar negócios com antecedência de um ano. Isso facilitaria negociações vantajosas para os exportadores, inclusive a venda de café com melhores preços, em anos de instabilidade no mercado (como foi 2000). Ampliar o prazo dos registros estimulará a maior participação dos exportadores no mercado de CPRs e na BM&F, permitindo ao produtor e suas cooperativas aproveitar os prêmios que as bolsas oferecem. Enfim, é a maneira de o cafeicultor usar a seu favor o mercado futuro.
            Finalmente, outra estratégia que precisa ser melhor analisada é sobre o estabelecimento de entrepostos comerciais em regiões estratégicas do mundo. Aliás, esse aspecto tem sido apontado por empresas multinacionais que atuam no setor. Por que não, por exemplo, um entreposto em Cingapura que abrangeria todo o mercado emergente da Ásia? Têm sido levantados argumentos contrários a essa estratégia, como o crescimento do comércio virtual, muito mais prático e barato. Entretanto, há que se mencionar nesse tipo de comércio, como o do café, que vantagens de uma semana com relação a prazos pode aumentar a competitividade. Nesse tipo de estratégia, o papel do governo deve ser o de atuar na criação de facilidades como apoio legal e diplomático, sendo todo o processo conduzido pelo setor privado.

As exportações brasileiras de café no período de janeiro a agosto de 2001

            No período janeiro a agosto de 2001, o café (grão e solúvel), embora um dos mais importantes produtos do agronegócio brasileiro, manteve forte redução na receita de exportação (-20,12%), em relação ao mesmo período de 2000, que só não foi maior porque o volume exportado cresceu 26,37% (Tabela 1). Essa queda de receita deve-se à forte queda de preço no mercado internacional, que no nos últimos meses atingiu decréscimo de 39,53% para os arábicas na Bolsa de Nova Iorque e de 5,47% para o robusta na Bolsa de Londres. Com o encerramento definitivo do programa de retenção e o contexto de baixos preços recebidos pelos cafeicultores, firmou-se uma postura de ampliar receitas com a destinação de volumes crescentes à comercialização (doméstica e internacional). Esse posicionamento brasileiro acelera as quedas de preços, aprofundando ainda mais a crise no mercado.
            As exportações de solúvel, que apresentaram forte crescimento no volume, compensando a diminuição nos preços, resultaram em crescimento positivo de 2,48% na receita de divisas internacionais (tabela 1).

Tabela 1 – Exportações Brasileiras de Café em 2001- Janeiro a Agosto.

Item
Valor ( US$ mil)
Quantidade (mil sacas)
2001
2000
Var. (%)
2001
2000
Var. (%)
Café grão
806.484
1.044.638
-22,80
12.643
10.005
26,37
Café solúvel
127.025
123.945
2,48
1.397
1.052
32,79
Total
933.509
1.168.583
-20,12
14.040
11057
26,98

Fonte: SECEX/MDIC.

Consumo de café em alta

            Uma pesquisa efetuada pelo IEA, com o apoio da EMBRAPA e do Sindicafesp, mostra que o consumo de café expresso na cidade de São Paulo cresceu 10% entre 2000 e 2001. Por ser considerado um café especial, o consumo de expresso cria demanda para qualidade da bebida. Consumidores mais exigentes quanto a qualidade induzirão as torrefadoras, e todos os demais membros da cadeia café, a premiar produtos diferenciados, gerando ganhos extras para aqueles que têm como objetivo alcançar a melhor qualidade possível para seu café.
 

1 Convênio IEA/APTA-SAA-DESR/ESALQ/USP.
 

Data de Publicação: 08/10/2001

Autor(es): Luiz Moricochi (moricochi@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor